O negociador-chefe do grupo palestino Hamas disse, nesta quinta-feira, 9, ter recebido garantias suficientes dos Estados Unidos e de seus aliados e que, desta forma, a guerra com Israel acabou.

"Recebemos garantias dos mediadores e do governo americano, que nos confirmaram que a guerra está completamente terminada", disse Khalil al-Hayya, segundo a rede Al-Jazeera.

Ele disse que 250 palestinos que cumprem prisão perpétua em Israel serão libertados, como parte do acordo, além de outros 1.70o palestinos que foram presos durante a invasão israelense.

Ao mesmo tempo, o governo de Israel debate o aval que falta para aprovar o plano de paz com o Hamas. O  gabinete de ministros do premiê Benjamim Netanyahu, que comanda as ações militares em Gaza, começou a discutir o tema no começo da noite desta quinta em Israel, começo da tarde no Brasil.

Após a aprovação pelo gabinete de Israel, o cessar-fogo deverá entrar em vigor em 24 horas e a troca de reféns e prisioneiros será feita em até 72 horas. O cronograma exato ainda não foi divulgado, mas essas eram as previsões feitas no plano de paz.

O acordo atual poderá colocar fim ao principal conflito do Oriente Médio, que já dura dois anos e deixou mais de 60 mil mortes, segundo dados das autoridades de Gaza, controladas pelo Hamas, mas reconhecidos como reais pela ONU.

Assim, no prazo de 24 horas após a assinatura do acordo, as tropas israelenses terão que se retirar para a linha apelidada de "linha amarela" pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Com isso, os militares israelenses reduzirão seu controle do território de Gaza. Hoje, eles dominam mais de 80% e recuariam para 53% do total, disse Tal Heinrich, porta-voz israelense. A redução se ampliará nas próximas fases do acordo.

Após esses primeiros passos, o Hamas terá 72 horas para iniciar a libertação e a entrega dos reféns ao Comitê da Cruz Vermelha, explicou a porta-voz, o que ocorrerá fora das câmeras e sem cerimônias como as organizadas pelo grupo islâmico em tréguas anteriores.

A proposta atual foi anunciada em 29 de setembro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e prevê 20 medidas. As principais delas incluem a libertação de reféns israelenses pelo Hamas e de presos palestinos por Israel, além da retirada dos militares israelenses de Gaza. O Hamas também deve deixar o comando da região e poderá receber anistia se entregar as armas e deixar a região.

O plano possui várias fases. Após a troca de reféns e a saída do Hamas, as forças de Israel entregariam o controle da região para um governo de transição, composto por especialistas palestinos e grupo de supervisão internacional.

O tratado abre espaço para que ajuda humanitária, como o envio de alimentos, possa entrar em Gaza de modo facilitado. A entidade Crescente Vermelho disse que 153 caminhões partiram do Egito nesta quinta com destino ao enclave palestino, onde vivem cerca de 2 milhões de pessoas.

Trump disse, na noite de quarta-feira, 8, que Israel e Hamas concordaram com o plano. O presidente americano deve viajar ao Oriente Médio para celebrar o acordo. O governo de Israel disse que a visita pode ocorrer no domingo, 12.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou nesta quinta-feira (9) que a Turquia participará de um grupo de trabalho encarregado de monitorar a implementação do acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

"Esperamos que a Turquia participe do grupo de trabalho que monitorará a implementação do acordo na prática", disse o presidente turco, que enviou uma delegação ao Egito, onde o acordo de trégua está sendo negociado.

O Irã, um aliado do Hamas e inimigo de Israel, celebrou o acordo. "O Irã sempre apoiou qualquer ação e iniciativa que inclua o fim da guerra genocida, a retirada das forças de ocupação, o envio de ajuda humanitária, a libertação de prisioneiros palestinos e a concretização dos direitos fundamentais dos palestinos", disse o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.

Entenda o confronto entre Israel e Hamas

Israelenses e palestinos vivem um confronto há décadas. Israel foi criado, no fim dos anos 1940, sobre terras que os palestinos ocupavam anteriormente, após a ONU propor a fundação de dois países na região, um para os judeus e outro para os palestinos.

No entanto, nenhum dos lados concordou com a divisão feita em 1947. Os palestinos tentaram invadir o território dado a Israel, mas foram expulsos, dando origem a um conflito que dura até hoje. Nas décadas seguintes, Israel conquistou outras áreas e reduziu o espaço dos palestinos a dois blocos, um na Cisjordânia e outro na Faixa de Gaza.

A fase atual do confronto começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas, grupo que controla Gaza, fez um ataque ao território israelense, que matou 1.219 pessoas e sequestrou 251. Em seguida, Israel invadiu Gaza para buscar os reféns e acabar com o poder de ataque do Hamas.

Mais de 66.000 pessoas foram mortas em Gaza desde o início da guerra, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Os dados são questionados por Israel e seus aliados, mas considerados confiáveis pela ONU.

Dois lados enfraquecidos

Atualmente, os dois lados do conflito estão com menos força política e militar para lutar, o que aumenta as chances de aceitarem a paz, ao menos temporariamente.

Nos últimos meses, cenas de crianças palestinas com fome geraram comoção em outros países, pois Israel dificultou a entrada de alimentos enviados para Gaza. Ao mesmo tempo, os militares israelenses destruíram bairros inteiros, deixando milhares de pessoas desabrigadas.

Assim, líderes de outros países, incluindo Trump e governantes europeus, reduziram seu apoio a Israel e criticaram o país publicamente por suas ações e apertaram a pressão pelo fim do conflito. O Reino Unido e a França, entre outros países, também reconheceram, após décadas, o direito dos palestinos a um Estado, algo que incomodou Israel.

Do outro lado, o Hamas também perdeu milhares de integrantes, segundo Israel, bem como suas estruturas em Gaza, como depósitos de armas e túneis, o que reduziu sua capacidade de ataque, embora não a tenha destruído por completo.

Ao mesmo tempo, a falta de alimentos e a destruição de casas tornou a vida em Gaza muito difícil, o que também dificulta a rotina dos militantes, bem como o recrutamento de novos membros.