Enquanto os Correios enfrentam um déficit de R$ 2,2 bilhões em 2024 e servidores denunciam atrasos nos repasses do FGTS e a suspensão do plano de saúde, a estatal decidiu investir R$ 4 milhões para se tornar “patrocinador master” da turnê do cantor Gilberto Gil. A decisão causou indignação entre os trabalhadores, que enfrentam cortes de benefícios e salários em atraso.

Os shows da turnê começaram no final de março, mesmo período em que a empresa admitiu graves dificuldades financeiras. Além disso, funcionários relatam que o plano de saúde corporativo foi suspenso devido a falta de pagamento, deixando milhares sem assistência médica.

Patrocínio polêmico em meio à crise

A parceria com Gilberto Gil coloca os Correios ao lado de marcas luxuosas, como a Rolex, enquanto a empresa acumula dívidas e atrasa pagamentos a transportadores, sob risco de greve. O valor do patrocínio supera até mesmo o repasse de R$ 1,3 milhão que os Correios destinaram ao “Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas” em Brasília, evento que contou com a presença do presidente Lula.

Os ingressos para os shows de Gilberto Gil chegam a custar R$ 1.530 – mais que um salário mínimo (R$ 1.518) –, levantando críticas sobre o uso de recursos públicos para um evento inacessível à população de baixa renda.

Justificativa dos Correios

Em nota, os Correios defenderam o patrocínio como uma estratégia de “reposicionamento de marca” e afirmaram que estão negociando a manutenção do plano de saúde dos servidores. No entanto, trabalhadores questionam a prioridade dada a gastos com publicidade em detrimento de direitos básicos.

Transparência questionável no governo federal

A polêmica ocorre em um contexto de crescentes gastos públicos sob o governo Lula. Dados do Portal da Transparência, paralisado desde fevereiro, mostravam que o governo federal já havia gasto quase R$ 80 milhões em viagens apenas nos primeiros meses de 2024 – incluindo R$ 37,8 milhões em passagens e R$ 41,4 milhões em diárias.

Os dois primeiros anos do atual governo bateram recordes históricos em despesas com viagens, ultrapassando R$ 2,3 bilhões em 2023 e repetindo o valor em 2024. A falta de atualização dos dados públicos, no entanto, impede o acompanhamento preciso dos gastos recentes.

Conclusão

Enquanto servidores dos Correios sofrem com a retirada de benefícios e a população enfrenta o custo de vida alto, a escolha da estatal em investir milhões em patrocínios culturais de alto luxo gera questionamentos sobre o uso do dinheiro público. A falta de transparência no governo federal só aumenta a desconfiança em relação aos gastos prioritários em um momento de crise econômica.